História

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domingo, 25 de outubro de 2015

Charqueadas

O povoamento do Rio Grande do Sul se fez de forma tardia em relação a outras regiões do Brasil. Inicialmente, baseou-se em interesses estratégicos de ocupação de território, com a introdução do imigrante açoriano em pequenas propriedades. Antes disso, vigorava no território o abate bovino para consumo e a captura de mulas para o transporte na região das minas. Somente com o desenvolvimento das charqueadas, a partir da segunda metade do século 18, houve a possibilidade de um real aproveitamento da carne bovina, o que veio a favorecer o desenvolvimento da região da campanha gaúcha, com as estâncias de criação de gado. Esse tipo de negócio determinou o acumulo de riquezas para estancieiros, charqueadores e de cidades como Pelotas, que logo sobressaiu como a principal representante dessa atividade no Estado.

A indústria do charque se instalou, definitivamente, no Rio Grande do Sul, a partir da charqueada pioneira de José Pinto Martins, em Pelotas, no ano de 1779. Desde então, graças à ampliação do mercado consumidor de charque, devido ao desenvolvimento da lavoura, no centro e norte do país, foram se multiplicando as charqueadas na cidade, resultando num único centro produtor, que perdurou por mais de um século, explorando a mão de obra escrava. O trabalho nas charqueadas era tão duro e estafante que o tipo de mão-de-obra adotado foi o trabalho compulsório dos negros. 

Na época da safra do charque, os escravos tinham uma jornada de trabalho que chegava a ultrapassar 16 horas diárias. Já nos períodos de entressafra — de maio a outubro — eram deslocados para as olarias, na fabricação de telhas e tijolos, e para a construção dos casarões que hoje formam o meio urbano de Pelotas. Havia dois tipos de escravos nas charqueadas: os qualificados e os sem qualificação. Os escravos qualificados eram os que estavam inseridos no processo de produção e no transporte do charque, eram a maioria entre os cativos. Os sem qualificação realizavam todos os outros tipos de serviços. Entre estes se encontravam as mulheres, em número menor do que o de homens, que participavam, sobretudo das atividades domésticas. Havia uma média de oitenta e quatro cativos por charqueada, podendo ocorrer uma leve variação desse número de acordo com o período. Em Pelotas, parte do século 19 caracterizou-se, em termos populacionais, por uma ampla maioria negra. O Passo dos Negros, por exemplo, anteriormente Passo Rico, passou a se chamar assim devido ao intenso comércio de escravos que ali se dava. 

A riqueza e a opulência da cidade de Pelotas, alcançadas durante o ciclo do charque, foram geradas através da força de trabalho escravo nas charqueadas. Os negros vinham dos mercados centrais do Brasil, eram levados até Rio Grande e depois para as charqueadas de São Francisco de Paula, onde eram submetidos a exaustivos regimes de trabalho, tratados com rigor e violência, o que ocasionava muitas fugas, suicídios, abortos e infanticídios. Outras pequenas resistências também ocorriam no dia a dia, como fugas noturnas para encontros amorosos, bailes, jogos de azar, a manutenção das tradições culturais e religiosas, pequenos e grandes furtos, sabotagens, confrontos corporais, assassinatos dos senhores, de sua família, dos capatazes e capitães do mato, envenenamentos, além de insurreições e formação de quilombos. 

A resistência escrava durou até o fim do regime escravista, em 1888, pois, ao contrário do que afirma parte da historiografia tradicional, o regime escravista não teve seu fim antecipado em 1884, como ocorreu em Pelotas. A falsa abolição de 84 é fruto de uma campanha abolicionista que resultou na obtenção de um grande número de cartas de alforria por parte da escravaria e da troca de favores políticos com o Império. Porém, a obtenção das cartas necessariamente não traria a liberdade imediata aos cativos, pois a maioria das cartas passadas naquele ano trazia consigo cláusulas de prestação de serviços. Cláusulas essas que mantinham os escravos, apesar de possuírem sua alforria, ligados a seus senhores. O não cumprimento das obrigações legais, estipuladas em tais documentos, poderia levar a anulação das mesmas. Assim, as fugas, as revoltas, os quilombos e demais resistências, permaneceram até 1888 quando da promulgação da Lei Áurea, lei que assinalou o término oficial da escravidão, mas não o fim das lutas dos negros por sua cidadania.


Índios: Os primeiros habitantes do Rio Grande do Sul

Alguns dos costumes mais tradicionais dos gaúchos como o churrasco e tomar chimarrão são heranças indígenas. Por isso, o conhecimento sobre esses primeiros habitantes dos pampas se torna fundamental para a compreensão da história do Rio Grande do Sul.

Os indígenas que viviam nas terras onde hoje é o Rio Grande do Sul, antes da chegada dos europeus, pertenciam a três grupos: os guarani, os jê e os pampianos. Os guarani ocupavam o litoral, a parte central até a fronteira com a Argentina, os jê habitavam parte norte junto a Santa Catarina e os pampianos se localizavam ao sul junto do Uruguai.

Os guarani também conhecidos como tape, arachane e carijó eram o grupo indígena mais numeroso da região. Habitavam principalmente os vales dos rios e as margens das lagoas, onde a caça e a pesca eram mais abundantes. Os guarani coletavam diversos tipos de moluscos, frutos e raízes e cultivavam principalmente o milho e o aipim, mas também plantavam feijão, abobora e batata. Suas moradias tinham uma estrutura de madeira cobertas com fibras vegetais, em geral de base circular. Essas habitações denominadas de ocas eram habitadas por diversas famílias com grau de parentesco entre si. Uma aldeia, normalmente era formada por três a seis ocas. Os guarani foram os grupos que formariam mais tarde os povos missioneiros, catequizados pelos jesuítas espanhóis.

Os índios do grupo jê que ocupavam o planalto Norte-Riograndense. Os kaingang que constituem a maior parte dos indígenas que vivem hoje em terras gaúchas faziam parte desse grupo. Os jê viviam da caça, da pesca e da coleta de frutos e raízes. Também praticavam a agricultura, cujo principal produto era o milho. Para se proteger do frio moravam em casas “subterrâneas”. Eles cavavam buracos no chão, que tinham aproximadamente dois metros de profundidade e cinco metros de largura e protegiam esse buraco com um telhado feito de galhos de árvores cobertos por ramos de palmeira. Os jê foram sendo expulsos de suas terras pelos brancos que iam chegando ao território. Muitos de suas aldeias foram simplesmente massacradas. No século XIX, os poucos jê que sobraram e que haviam sido um dia os senhores do planalto, foram obrigados a viver em pequenas reservas.

Os pampianos, grupo formado principalmente pelos charruas e minuanos, eram o povo indígena menos numeroso. Viviam principalmente nos campos e em áreas com bastante água, pois nelas haviam abundancia de recursos para a pesca e caça. Diferentemente dos guarani e jê, os pampianos não praticavam a agricultura. Viviam da caça, da pesca e da coleta de frutos e raízes e logo incorporaram os animais trazidos pelos europeus à sua vida. Os cavalos eram utilizados como meio de transporte e para auxiliar na caça. O gado bovino servia de alimento. Com a ocupação de suas terras por portugueses e espanhóis, os pampianos foram obrigados a ir cada vez mais para o interior. A escassez de recursos provocou a fome, e a situação se agravou com as epidemias e as guerras. Muitos deles foram trabalhar nas fazendas dos colonizadores europeus. Os pampianos que restaram foram massacrados por tropas uruguaias na década de 1830.

Dos grupos indígenas que habitavam o Rio Grande do Sul à época da chegada dos europeus restam somente 40 mil, dos quais somente 13 mil vivem nas reservas ou em aldeias. Os pampianos foram completamente dizimados ainda no século XIX. Os poucos jê que restaram pertencem ao grupo kaingang e os guarani tentam sobreviver e enfrentam diversas dificuldades, principalmente em relação a demarcação de suas terras.

As áreas destinadas aos kaingang estão relativamente demarcadas. Elas, no entanto, são muito pequenas para o numero de índios que nelas habitam. Isso ocorre porque as reservas originais criadas no século XIX, perderam grande parte de sua área devido a invasão de pecuaristas e extrativistas e ao assentamento de colonos. Ainda hoje, os índios disputam suas terras com os agricultores que foram assentados entre as décadas de 1940 a 1960. Além disso, o constante uso do solo acabou o degradando, tornando a produção insuficiente para alimentar as famílias. Tal situação faz com que a maioria dos kaingang viva na miséria e muitos até passam fome.

Os guarani hoje são pouco mais de mil que vivem no Rio Grande do Sul, a maioria no litoral. A constante migração dos guaranis dificulta a comprovação histórica com as áreas que eles habitavam e a sua demarcação. Por isso muitas famílias de guarani vivem hoje ao longo das rodovias

sábado, 24 de outubro de 2015

Lendas Gaúchas

O Negrinho do pastoreio

O Negrinho do Pastoreio é uma lenda do folclore brasileiro surgida no Rio Grande do Sul. De origem africana, esta lenda surgiu no século XIX, período em que ainda havia escravidão no Brasil. Esta lenda retrata muito bem a violência e injustiça impostas aos escravos. 

De acordo com a lenda, havia um menino negro escravo, de quatorze anos, que possuía a tarefa de cuidar do pasto e dos cavalos de um rico fazendeiro. Porém, num determinado dia, o menino voltou do trabalho e foi acusado pelo patrão de ter perdido um dos cavalos. O fazendeiro mandou açoitar o menino, que teve que voltar ao pasto para recuperar o cavalo. Após horas procurando, não conseguiu encontrar o tal cavalo. Ao retornar á fazenda foi novamente castigado pelo fazendeiro. Desta vez, o patrão, para aumentar o castigo. colocou o menino pelado dentro de um formigueiro. No dia seguinte, o patrão foi ver a situação do menino escravo e ficou surpreso. O garoto estava livre, sem nenhum ferimento e montado no cavalo baio que havia sumido. Conta a lenda que foi um milagre que salvou o menino, que foi transformado num anjo. 

O Negrinho do Pastoreio é considerado, por aqueles que acreditam na lenda, como o protetor das pessoas que perdem algo. De acordo com a crença, ao perder alguma coisa, basta pedir para o menino do pastoreio que ele ajuda a encontrar. Em retribuição, a pessoa deve acender uma vela ao menino ou comprar uma planta ou flor.

Casa de MBororé

No tempo dos Sete Povos das Missões, havia um índio velho muito fiel aos padres jesuítas, chamado MBororé. Com a chegada dos invasores portugueses e espanhóis, os padres precisaram fugir levando em carretas os tesouros e bens que pudessem carregar. Assim, amontoaram o muito que não podiam levar consigo – ouro, prata, alfaias, jóias, tudo!- e construíram ao redor uma casa branca, sem porta e sem janela. Para evitar a descoberta da casa pelo inimigo e o conseqüente saqueio, deixaram o velho índio fiel MBororé cuidando, com ordens severas de só entregar o tesouro quando os jesuítas voltassem às Missões.

Mas os jesuítas nunca mais voltaram. Com o passar dos anos, o velho índio morreu e o tempo foi marcando tudo, deixando as ruínas de pé como as cicatrizes de um sonho que acabou. Acabou? Não. A Casa de MBororé continua lá num mato das Missões, imaculadamente branca, cuidada pela alma do índio fiel que ainda espera a volta dos jesuítas.

Às vezes, algum mateiro –lenhador ou caçador- dá com ela, de repente, num campestre qualquer. Imediatamente dá-se conta de que é a Casa de MBororé, cheia de tesouros. Resolve então marcar bem o local para voltar com ferramentas e abrir a força a casa que não tem porta nem janela. Guarda bem o lugar na memória pelas árvores tais e tais, pela direção do sol e coisas assim. Sai, volta com ferramentas, só que nunca mais acha de novo a Casa Branca de MBororé, sem porta e sem janela.”

São Sepé (Sepé Tiaraju)

Sepé era um índio valente e bom, que lutou contra os estrangeiros para defender a terra das missões. Ele era predestinado por Deus e São Miguel: tinha nascido com um lunar na testa. Nas noites escuras ou em pleno combate, o lunar de Sepé brilhava, guiando seus soldados missioneiros. Quando ele morreu, vencido pelas armas e o número de portugueses e espanhóis, Deus Nosso Senhor retirou de sua testa o lunar, que colocou no céu do pampa para ser o guia de todos os gaúchos - é o Cruzeiro do Sul.

João de Barro

Contam os índios que, há muito tempo, numa tribo do sul do Brasil, um jovem se apaixonou por uma moça de grande beleza. Melhor dizendo: apaixonaram-se. Jaebé, o moço, foi pedi-la em casamento. O pai dela perguntou:

- Que provas podes dar de sua força para pretender a mão da moça mais formosa da tribo?

- As provas do meu amor! - respondeu o jovem.

O velho gostou da resposta mas achou o jovem atrevido. Então disse:

- O último pretendente de minha fila falou que ficaria cinco dias em jejum e morreu no quarto dia.

Eu digo que ficarei nove dias em jejum e não morrerei.

Toda a tribo se espantou com a coragem do jovem apaixonado. O velho ordenou que se desse início à prova.

Enrolaram o rapaz num pesado couro de anta e ficaram dia e noite vigiando para que ele não saísse nem fosse alimentado. A jovem apaixonada chorou e implorou à deusa Lua que o mantivesse vivo para seu amor. O tempo foi passando. Certa manhã, a filha pediu ao pai:

- Já se passaram cinco dias. Não o deixe morrer.

O velho respondeu:

- Ele é arrogante. Falou nas forças do amor. Vamos ver o que acontece.

E esperou até até a última hora do nono dia. Então ordenou:

- Vamos ver o que resta do arrogante Jaebé.

Quando abriram o couro da anta, Jaebé saltou ligeiro. Seu olhos brilharam, seu sorriso tinha uma luz mágica. Sua pele estava limpa e cheirava a perfume de amêndoa. Todos se espantaram. E ficaram mais espantados ainda quando o jovem, ao ver sua amada, se pôs a cantar como um pássaro enquanto seu corpo, aos poucos, se transformava num corpo de pássaro!

E exatamente naquele momento, os raios do luar tocaram a jovem apaixonada, que também se viu transformada em um pássaro. E, então, ela saiu voando atrás de Jaebé, que a chamava para a floresta onde desapareceu para sempre.

Contam os índios que foi assim que nasceu o pássaro joão-de-barro.

A prova do grande amor que uniu esses dois jovens está no cuidado com que constroem sua casa e protegem os filhotes. E os homens amam o joão-de-barro porque lembram da força de Jaebé, uma força que vinha do amor e foi maior que a morte.


A Lenda de Angoéra

Nos sete povos das Missões, no Pirapó, ainda no tempo dos padres jesuítas, vivia um índio muito triste, que se escondia de tudo e de todos pelos matos e peraus. Era um verdadeiro fantasma e por isso era chamado de Angoéra (fantasma, em guarani). E fugia da igreja como o diabo da cruz!

Mas um dia a paciência dos padres valeu mais e o Angoéra foi batizado, convertendo-se à fé cristã e deixando de vagar pelos rincões escondidos. Recebeu o nome de Generoso e tornou-se alegre e bom, mui amigo de festas e alegrias. E um dia morreu, mas sua alma alegre e festeira continuou por aí, até hoje, campeando diversão. Onde tenha um fandango, lá anda rondando a alma do Generoso. Se rufa uma viola sozinha, é a mão dele. Se houve uma risada galponeira ou se levanta de repente a saia de alguma moça, todos sabem - é ele.

Quando isto acontece, o tocador que está animando a festa deve cantar em sua homenagem: "Eu me chamo Generoso, morador de Pirapó. Gosto muito de dançar com as moças, de paletó".

Os lanceiros negros da Revolução Farroupilha

O maior conflito armado ocorrido em território brasileiro teve participação fundamental de um grupo de pessoas que, na época, jamais imaginariam que seriam tão importantes no conflito, tanto no desenrolar quanto na conclusão. Os lanceiros negros, grupamento do exército farroupilha formado por escravos convocados para lutar ao lado dos revoltosos, desempenhou um importante papel durante os 10 anos da Revolução Farroupilha.
Escravos libertos (ou nem tanto) para lutar pelo Rio Grande!

A Revolução Farroupilha teve início principalmente pela revolta dos estancieiros gaúchos, descontentes com a política implantada pelo Império Brasileiro, que desfavorecia a produção e comercialização do charque e do couro gaúchos, enquanto favorecia a produção de nossos hermanos, pois o Império preferia comprar este produto na região do Prata.

Vários destes estancieiros usavam mão-de-obra escrava em suas fazendas. Ao aderir a revolta, o estancieiro convocava seus escravos para lutar ao seu lado, engrossando as fileiras farroupilhas contra as tropas imperiais. Como motivação para lutar, o escravos recebiam a promessa de que estariam livres após o conflito, com a definitiva implantação da República Rio Grandense.

Além disto, quando uma estância de uma pessoa favorável ao Império era invadida, os escravos que trabalhavam nesta estância eram “libertados” pelos republicanos e convocados para o exército farroupilha. Em pouco tempo, o 1° Corpo dos Lanceiros da primeira linha, criado em 1836, contava com mais de 400 homens a serviço da Revolução. Já em 1838 foi criado o 2° Corpo de Lanceiros, desta vez com exatos 426 homens. A maioria era formada por ex-escravos, mas nas fileiras também contavam com mestiços e “índios”.

E não eram soldados comuns, por nunca terem feito parte de um corpo militar antes da Revolução Farroupilha. Muitos tinham grande habilidade em cima de um cavalo, pois já trabalhavam domando animais nas estâncias, enquanto outros eram exímios lutadores com as lanças e facas em punho, além de usarem muito bem a boleadeira. Isto garantia ótima mobilidade ao batalhão e um grande poder destrutivo, o que transformava-os em uma espécie de batalhão de choque dos farroupilhas.
As dúvidas quanto à libertação e os direitos dos negros no RS:

Uma questão controversa e que chamou minha atenção quando eu pesquisava sobre o assunto foi justamente a “liberdade” prometida pelos farroupilhas e o tratamento dispensado aos escravos que lutavam pela independência do Rio Grande do Sul. Pois não há um posicionamento claro de que a liberdade era de fato certa ao fim do conflito – no caso de vitória farroupilha – ou se a escravidão seria oficialmente abolida no Rio Grande do Sul. O que sabemos é que o Império venceu, então grande parte dos escravos que sobreviveram ao Massacre na Batalha dos Porongos (calma que já chegamos lá) voltaram a ser escravos com o fim do conflito.

O que temos de certo é que na época o Império chegou a decretar que os escravos que lutavam ao lado dos farroupilhas estariam sujeitos à pena que variava de 200 a 1000 chibatadas, caso fossem capturados. Enquanto isso, os farroupilhas publicaram uma declaração repudiando o decreto imperial e informando que o exército republicano mataria um soldado imperial para cada negro capturado e açoitado. Deste ato podemos ter uma ideia de como os republicanos tratariam os escravos caso a Revolução tivesse êxito. Ou não, já que existe um “desencontro de informações” quanto à um acontecimento particularmente sangrento da Revolução Farroupilha.

Informações e dados da região Sul do Brasil


Resultado de imagem para mapa região sul
- Área: 576.774,3 km²

- População: 29.016.114 (estimativa 2014)  
  
- Densidade demográfica (estimativa 2014): 50,3 hab./km²
  
- Mortalidade infantil (por mil): 10,4 (em 2013 - estimativa)

- Analfabetismo: 4,6% (em 2013)

- Número de municípios: 1.191 (2013)

- Estados: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

- Vegetação: Mata dos Pinhais ou de Araucárias (regiões de planalto); Mata Atlântica (região da Serra do Mar); Campos (na região da Campanha Gaúcha ou Pampa no Rio Grande do Sul).

- Rios Principais: rio Paraná, rio Uruguai, rio Itajaí, rio Jacuí e rio Pelotas

- Usinas Hidrelétricas: Usina Hidrelétrica de Itaipú (no rio Paraná), Machadinho (rio Pelotas) e Itá (no rio Uruguai).

- Agricultura: (principais produtos agrícolas): soja, trigo, arroz, algodão, cana-de-açúcar, laranja, uva, café, erva-mate.

- Economia: bem diversificada e desenvolvida. Destacam-se as indústrias de transformação, automobilística, têxtil, alimentícia, produtos eletrônicos e tecnológicos. A área de serviços também é muito importante, destacando-se o turismo nas cidades litorâneas, principalmente, de Santa Catarina. O comércio também é bem movimentado em toda região Sul.

- Social: Grande parte das cidades da região sul apresenta ótimos índices sociais e de qualidade de vida.

- Turismo: as cidades litorâneas possuem uma excelente infra-estrutura turística (aeroportos, pousadas, hotéis, parques, etc). As praias se destacam pelas belezas naturais, principalmente no litoral catarinense. Há também o turismo histórico-cultural, com cidades de arquitetura do período da colonização italiana e alemã (final do século XIX e início do XX).

- Cultura:
Danças: As danças folclóricas e típicas da região sul são realizadas em atividades em grupo ou individualmente. No Paraná e em Santa Catarina, pode-se conferir a Balainha, que é feita com pares de dançarinos que utilizam um arco com flores. Outro tipo de dança bastante conhecido na região é o fandango, que possui muitos passos variados e que é acompanhada por instrumentos como a gaita e o violão.

Em Santa Catarina, as mais comuns são a Dança do Vilão e a Boi de Mamão. No Rio Grande do Sul, as danças típicas receberam influências dos imigrantes e da proximidade com a fronteira do Brasil. As principais são o Vaneirão, a Chula, a Milonga e a Chimarrita.

Lendas da Região Sul:
Um dos principais personagens do folclore brasileiro e da região sul é o saci. Surgiu entre tribos indígenas que ficavam na região sul do Brasil, por volta do século XVIII. No sul, ele é representado como um menino moreno e com rabo que apronta peripécias na floresta. Ele utiliza uma carapuça vermelha e tem apenas uma perna. Além disso, é representado fumando cachimbo e segundo a lenda, para capturá-lo, é necessário pegar a carapuça para escondê-la.

Outra lenda da região é a do Boitatá, um monstro em formato de cobra. Segundo contam, ele se escondeu de um dilúvio em um buraco e por isso seus olhos ficaram maiores. Em algumas histórias, as pessoas acreditam que ele possui bolas de fogo no lugar onde ficam os olhos. Já em Santa Catarina, acreditam que ele coma os olhos dos animais que mata e por isso tenha essa visão flamejante. Durante o dia, ele fica cego e enxerga apenas a noite, quando sai para caçar. Seu nome, na linguagem indígena significa 'coisa de fogo'.

O curupira é outro personagem difundido no folclore do sul. Ele é representado por um menino com cabelo esvoaçante que possui os pés para trás. Ele é responsável por proteger a floresta e os animais. A lenda diz ainda que ele anda montado em um porco do mato e que possui a capacidade de iludir quem o caça. Os pés virados iludem o caçador que se perde na floresta ao tentar caçá-lo. Quem acredita na história evita caçar bichos às sextas-feiras com lua cheia, nos domingos e nos dias santos.

Principais Festas da Região Sul:

Oktoberfest: Essa festa acontece na cidade turística de Blumenau, em Santa Catarina, e foi inspirada na festa homônima ocorrida em Munique na Alemanha. A primeira edição aconteceu em 1984 e a festa surgiu com o intuito de divulgar as tradições alemãs no estado brasileiro. Conseguiram, pois a festa é a segunda festa alemã do mundo. O evento ocorre em outubro, com duração de 18 dias e recebe milhares de visitantes todos os anos. Acontecem apresentações musicais, danças e desfiles.

Marejada: A marejada é uma festa ocorrida na cidade de Itajaí, em Santa Catarina. Esse evento abriga apresentações que lembram o mar. Isso interfere na culinária, nas exposições e apresentações ocorridas durante a festa que teve sua primeira edição em 1987.

Festival de Cinema de Gramado: Esse festival foi criado depois que ocorreu uma Mostra de Cinema. A primeira edição ocorreu em 1973 e incentiva o cinema brasileiro. Os atores e produções premiados no evento recebem o Kikito de Ouro, uma estatueta que significa o deus do bom humor.

Festa de Nossa Senhora dos Navegantes: Essa festa religiosa ocorre tem Santa Catarina todos os anos. A imagem de Nossa Senhora é levada por embarcações em uma procissão pelo mar.

Religião: A região sul do Brasil tem uma forte tradição cristã, com uma população predominante de católicos.O povo gaúcho é parecido com o restante do Brasil, tem muitos católicos e protestantes, uma diferença é que em outras partes do Brasil os evangélicos eram originalmente de uma religião e depois trocam para o protestantismo, já aqui no RS os protestantes já são adeptos dessa religião de origem, desde os imigrantes que colonizaram nosso pampa. Tem uma pesquisa que aponta que os gaúchos são os que mais assumem suas religiões afro, que não dizem ser católicos, não tem medo dessa opção.

Índios do Brasil

Ao contrário do que sempre pensamos e do que os livros didáticos contavam, os portugueses não foram os primeiros povoadores do Brasil, pois havia habitantes nativos aqui antes da chegada dos europeus. Esses habitantes nativos e suas comunidades foram chamados pelos europeus de indígenas, fazendo referência às Índias, local ao qual os portugueses acreditavam ter chegado. 

Os índios, habitantes das comunidades indígenas, até o ano de 1500, momento dos primeiros contatos com os europeus, possuíam mil e quatrocentos povos, aproximando-se de um quantitativo de 3 a 5 milhões de indígenas. As comunidades indígenas possuíam e ainda possuem características diferentes, começando pela língua: existiam e ainda existem vários troncos linguísticos, como o Tupi ou Macro-Tupi, Macro-Jê e Aruak. Essas comunidades também apresentavam e ainda apresentam diferentes práticas culturais, diferentes crenças e diversos ritos religiosos. Segue um breve levantamento de alguns povos indígenas que habitam ou já habitaram o território brasileiro: Araweté, Avá-Canoeiro, Bororo, Cinta larga, Guarani, Javaé, Kaingang, Karajá, Kayapó, Krahó, Munduruku, Pataxó, Tapirapé, Terena, Ticuna, Tupinambá, Xakriabá, Xavante, Xerente, Xingu, Yanomami, entre outros. 
Os povos indígenas eram divididos em nômades e seminômades: eles se deslocavam constantemente de uma região para outra até o esgotamento dos recursos vegetais e animais disponíveis, ou seja, deslocavam-se à procura da pesca, da caça e do pequeno plantio para a sobrevivência. Grande parte dos povos indígenas morava em aldeias, pequenas comunidades. Muitos pesquisadores das culturas indígenas defendiam a ideia de que esses povos possuíam uma organização política, mas não tão complexa como a dos não índios. Geralmente as lideranças de uma aldeia derivariam dos valores culturais e sociais que os guerreiros e chefes espirituais ostentariam dentro de suas comunidades.
Durante o contexto histórico brasileiro (desde 1500 até a atualidade), os povos indígenas sofreram um processo de conquista, dizimação física (genocídio) e violência cultural (etnocídio) iniciado pelos portugueses e perpetuado, posteriormente, pela população brasileira. Atualmente, segundo pesquisas do órgão do governo, IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 734.131 pessoas se declaram como indígenas, mas, segundo a FUNAI (Fundação Nacional do Índio), se considerarmos como índios somente as pessoas que habitam as reservas indígenas, o número do IBGE reduziria para 358 mil indígenas, com a sua grande maioria concentrada nas regiões do Nordeste, Amazonas e Centro-Oeste. 

Muitos dos hábitos, costumes, alimentação e crenças da sociedade brasileira são herança direta dos povos indígenas, como, por exemplo: o hábito de andar descalço, o costume de dormir em rede, o hábito da pesca e caça, alimentação à base de mandioca, farinha, polvilho, beiju, além das crenças na eficácia das plantas como alternativa para cura de doenças. Conforme Gabriela Cabral “existem cerca de 225 sociedades indígenas distribuídas em todo o território brasileiro, corresponde a 0,25% da população do país. Diante das culturas específicas de cada sociedade, somente algumas delas foram anteriormente destacadas” 

Por Leandro Carvalho - Mestre em História