História

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sábado, 24 de outubro de 2015

Os lanceiros negros da Revolução Farroupilha

O maior conflito armado ocorrido em território brasileiro teve participação fundamental de um grupo de pessoas que, na época, jamais imaginariam que seriam tão importantes no conflito, tanto no desenrolar quanto na conclusão. Os lanceiros negros, grupamento do exército farroupilha formado por escravos convocados para lutar ao lado dos revoltosos, desempenhou um importante papel durante os 10 anos da Revolução Farroupilha.
Escravos libertos (ou nem tanto) para lutar pelo Rio Grande!

A Revolução Farroupilha teve início principalmente pela revolta dos estancieiros gaúchos, descontentes com a política implantada pelo Império Brasileiro, que desfavorecia a produção e comercialização do charque e do couro gaúchos, enquanto favorecia a produção de nossos hermanos, pois o Império preferia comprar este produto na região do Prata.

Vários destes estancieiros usavam mão-de-obra escrava em suas fazendas. Ao aderir a revolta, o estancieiro convocava seus escravos para lutar ao seu lado, engrossando as fileiras farroupilhas contra as tropas imperiais. Como motivação para lutar, o escravos recebiam a promessa de que estariam livres após o conflito, com a definitiva implantação da República Rio Grandense.

Além disto, quando uma estância de uma pessoa favorável ao Império era invadida, os escravos que trabalhavam nesta estância eram “libertados” pelos republicanos e convocados para o exército farroupilha. Em pouco tempo, o 1° Corpo dos Lanceiros da primeira linha, criado em 1836, contava com mais de 400 homens a serviço da Revolução. Já em 1838 foi criado o 2° Corpo de Lanceiros, desta vez com exatos 426 homens. A maioria era formada por ex-escravos, mas nas fileiras também contavam com mestiços e “índios”.

E não eram soldados comuns, por nunca terem feito parte de um corpo militar antes da Revolução Farroupilha. Muitos tinham grande habilidade em cima de um cavalo, pois já trabalhavam domando animais nas estâncias, enquanto outros eram exímios lutadores com as lanças e facas em punho, além de usarem muito bem a boleadeira. Isto garantia ótima mobilidade ao batalhão e um grande poder destrutivo, o que transformava-os em uma espécie de batalhão de choque dos farroupilhas.
As dúvidas quanto à libertação e os direitos dos negros no RS:

Uma questão controversa e que chamou minha atenção quando eu pesquisava sobre o assunto foi justamente a “liberdade” prometida pelos farroupilhas e o tratamento dispensado aos escravos que lutavam pela independência do Rio Grande do Sul. Pois não há um posicionamento claro de que a liberdade era de fato certa ao fim do conflito – no caso de vitória farroupilha – ou se a escravidão seria oficialmente abolida no Rio Grande do Sul. O que sabemos é que o Império venceu, então grande parte dos escravos que sobreviveram ao Massacre na Batalha dos Porongos (calma que já chegamos lá) voltaram a ser escravos com o fim do conflito.

O que temos de certo é que na época o Império chegou a decretar que os escravos que lutavam ao lado dos farroupilhas estariam sujeitos à pena que variava de 200 a 1000 chibatadas, caso fossem capturados. Enquanto isso, os farroupilhas publicaram uma declaração repudiando o decreto imperial e informando que o exército republicano mataria um soldado imperial para cada negro capturado e açoitado. Deste ato podemos ter uma ideia de como os republicanos tratariam os escravos caso a Revolução tivesse êxito. Ou não, já que existe um “desencontro de informações” quanto à um acontecimento particularmente sangrento da Revolução Farroupilha.

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